segunda-feira, 28 de dezembro de 2009

O Eterno dilema da disciplina na educação


A questão da disciplina acompanha o debate sobre os rumos da educação a muito tempo, pelo menos, desde quando comecei a dar aula em cursos de Pedagogia em 2002. A preocupação em obter resultados acadêmicos quase sempre leva os educadores a crer que o fortalecimento da disciplina resolveria o problema. Alunos dóceis, que sempre pedem pra ir ao banheiro, que respondem a tudo com um alto “yes sir!!!” é o sonho de todo professor (o meu também, não vou esconder). Filmes que abordam essa temática são muitos. Hoje assisti a mais um, “Coach Carter: Treino para a vida”, que pra variar, relaciona esporte e educação, motivo de orgulho para os (norte) americanos, com seus grandes resultados nas olimpíadas, mas que na verdade, esconde um sistema cruel que poucas vezes cria estudantes-atletas, e que compra jovens pobres (na maioria afro-americanos) com bolsas de estudo apenas (e para apenas) por serem bons em algum esporte (basquete normalmente).

O filme é justamente feliz por fazer essa crítica, mostrar que as próprias escolas esperam destes alunos apenas resultados nas quadras ou campos. Lembro de um filme muito bom chamado “Encontrando Forrester” que contava a história de um brilhante aluno tanto no basquete quanto nos livros… recomendo.

Em “Coach Carter” o treinador visualiza isso e começa a exigir de seus alunos resultados nas notas tão bons quanto nas quadras, e aí recorre aos instrumentos autoritários (e geralmente militarizados) comuns nestes filmes. Exercícios físicos, proibições em geral, e aqui e acolá pérolas de assédio moral são implementados e… obviamente: "DÃO RESULTADO!. “Que maravilha!” - pensamos nós educadores. Disciplina é a solução.

Confesso que ainda tenho pouca clareza quanto a isso, mas me incomoda essa ideia autoritária que os filmes reproduzem, atos duros cheios de boas intenções. É claro que adoraria ter disciplina, respeito, dedicação espartana entre meus alunos, mas tenho medo de cobrar por igual aqueles que são diferentes. “Lugares comuns”, métodos lineares, quase sempre deixam muitos pelo caminho, e na maioria das vezes, não se perguntam porque esses ficaram.

Permaneço achando que precisamos continuar refletindo sobre a educação, desejando nos tornar hérois como os “treinadores” desses filmes (recomendo também “Duelo de titãs” com temática muito semelhante), mas sempre tomando o devido cuidado para não reproduzir estratégias draconianas demais em nome das boas intenções.

O filme erra muito, mas também acerta muito. Reproduz clichês comuns em filmes sobre esportes como terminar sempre numa longa cena de um grande e decisivo jogo (embora com uma certa surpresa no final), mas inova quando inclui entre os jovens vitimizados não só afro-americanos mas também os descendentes de latino-americanos em geral, que hoje sofrem tanto, e em alguns casos até mais, nos EUA quanto os negros (recomendo sobre essa temática o filme “Escritores da Liberdade”). Vale a pena assistir e ampliar o debate, a EDUCAÇÃO precisa disso.

Veja o trailer do filme no link:

http://www.youtube.com/watch?v=F-s6osgsFug

Grandes abraços,

domingo, 20 de dezembro de 2009

A misantropia dos intelectuais no foco de Woody Allen


A taxa de porcaria dos filmes que assisto estava aumentando essa semana (só para exemplificar: "Harry Potter" "Garota Infernal") quando por acaso resolvi ver um filme, sem ao menos saber que era de Woody Allen: "Tudo pode dar certo" (Whatever Works). O nome clichê deve ser uma provocação a pouca paciência (característica central de Boris, centro do filme) com o seu uso constante entre as pessoas com "QI abaixo de 100". Boris é o autêntico intelectual arrogante, aquele que ao estudar ao extremo (todos os títulos possíveis) acaba penetrando, ou melhor, ascendendo a um outro mundo, um outro patamar de percepção da realidade, exclusivo aos intelectuais. Daí a crítica as "pessoas comuns" chega a um patamar cômico. Tudo é questionado filo-físico-antropologicamente, da existência do amor, à necessidade do sexo. Empenhado nessa reflexão de botequim para poucos, o autor se isola do mundo, buscando apenas o convívio de seus poucos amigos também intelectuais\professores, reunidos nos botequins boêmios de Nova Iorque (como é a cara de Allen).

Outro aspecto interessante do filme e análise das possibilidades de um intelectual (no caso dele um físico... rs, especialista em mecânica quântica) se envolver afetivamente, quiçá casar, com um ser do "outro mundo" rs, digo, que não tenha estudado, ou que não consiga entender sobre cinema cult, bons vinhos, livros, entre outras coisas (me divertiria muito se tentasse ampliar essa lista rememorando os meus antigos e novos amigos intelectuais).

Bom, agora o porquê deste filme ter me chamado tanto a atenção: quem me conhece bem já deve ter percebido. Ele me lembra demais o "meu mundo de cá" Sim! Porque eu tenho dois mundos opostos que envolvem minha vida: o "de cá" acadêmico, intelectual, quase religioso, e o "de lá" popular, simples, quase profano.
É muito massa esse intercâmbio (rs), mas me delicio mesmo quando reúno-me nas rodas sarcásticas, misantropas dos meus amigos "intelectuais" (Gramsci me perdoe pelo mau uso do conceito). Entre a chatologia e a pura má vontade com o mundo, muitas gargalhadas consigo nestes momentos.
Quem é desse meio vai gostar (e se identificar) muito com o filme... recomendo.

P.S. Este é o primeiro arquivo de vídeo que recebo que vem com um glossário (mais de 20 verbetes) com as expressões principais que surgem no vídeo. Reproduzo aqui o verbete sobre Misantropia:
MISANTROPIA - é a aversão ao ser humano e à natureza humana no geral. Também engloba uma posição de desconfiança e tendência para antipatizar com outras pessoas. Um misantropo é alguém que odeia a humanidade de uma forma generalizada. O termo também é aplicável a todos aqueles que se tornam solitários por causa dos sentimentos acima mencionados (de destacar o elevado grau de desconfiança que detêm pelas outras ).

Veja o trailer legendado (em HD) no link:
http://www.youtube.com/watch?v=A6xDaMsDPw0

Grandes abraços,

segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

Cinema e Cozinha: Finalmente um bom filme



Há muito que não me interessava por filmes sobre temas gastronômicos, até porque a maioria deles eram muito ruins, lembro até de um que se passava num bar no humaitá em Salvador, produção americana, horrível, tanto que nem lembro o nome (apenas lembro que era com Murilo Benício em início de carreira).
Acabei de ver um: "Julie & julia" realmente muito bom, mas não porque fala de comida (francesa), mas porque envolve tantas coisas, e muitas delas mexem comigo.

A primeira delas é sobre um livro (no filme um livro de receitas) que acaba se tornando uma espécie de manual de instruções para a vida de uma das personagens. Quantos livros já lidos me envolveram, lembro, por exemplo, quando li "Batismo de Sangue" de Frei Beto, e o quanto me identifiquei, representei (muitas vezes caricaturalmente) muitos daqueles personagens. No filme Julie incorpora Júlia, na cozinha e na vida... idolatrando-a.

Outro elemento interessante do filme é o poder do Blog... esse espaço de publicização\exibição de intimidades cada vez mais usado por todos nós. No filme a autora estabelece uma meta: fazer cerca de 500 receitas do livro em um ano, e vai relatando, dia a dia, suas aventuras na cozinha (e em outros espaços da casa...rs). Tem uma cena em especial que me fez rir muito, quando ela fica hiper ansiosa por um comentário nos seus post's. Acho que todos que possuem um blog (até eu que pouco escrevo aqui) ficam desejando um comentário, olhando o blog todo o dia na esperança de um "adorei", "tá legal", etc. No filme o primeiro comentário no blog era da mãe dela: "mãe não conta"...rs.

Ri muito com o filme, e pra variar me identifiquei com algumas situações... vale a pena ver, seja por Meryl Streep, pela comida (francesa), pelas paisagens parisienses, e pelo vai-e-vem entre 1949 e 2002... realmente um filme inteligente. Acho até que vou estabelecer umas metas aqui no meu blog, como, por exemplo, assistir 30 filmes nessas férias e postar sobre todos aqui! Calma, não cometerei essa sandice, até porque a taxa de porcaria do que vejo beira os 30%...rs.

Vejam o trailer legendado (em HD) no link:
http://www.youtube.com/watch?v=vjvJHsJD8ic

Grandes abraços...

sábado, 24 de outubro de 2009

Uma lente de aumento na sala de aula



Ontem, 23/10 (sexta), vi na Sessão Solaris um filme fantástico, diferente de tudo que já vi sobre educação, "Entre os muros da escola" produção francesa de Laurent Cantet, que "FOUCALIZA" uma turma de 8ª série numa escola pública francesa com forte presença de estudantes imigrantes.

Bem, antes de comentar sobre o filme vou descrever um pouco aqui o que é a Sessão Solaris. Quando cheguei em Barreiras, em março deste ano encontrei colegas, novos e antigos, dispostos a se organizar num núcleo de Humanidades, dentro de um campus fortemente marcado pela presença das Exatas. De cara surgiu a proposta de recuperar um projeto anterior do Prof. Márcio Lima de exibição de filmes seguido de debates. Funciona assim: todo mês escolhemos um tema e exibimos filmes nas sextas-feira, reservando a última do mês para a realização de um debate/mesa-redonda sobre este tema. Este mês de outubro o tema é "Educação e Diversidade Cultural" e já exibimos os filmes: "Pro Dia Nascer Feliz" (documentário); "Escritores da Liberdade" e "Nenhum a Menos" (produção chinesa). Ontem, portanto, penúltima sexta do mês, exibimos "Entre os Muros da Escola" e como já não acontecia a tempos, tivemos um público muito bom e animado.

Bom, o filme conta a história do Prof. Marin, que leciona Francês para alunos adolescentes de várias origens étnicas, alguns franceses "tipicamente europeus", outros nascidos na França mas etnicamente africanos, asiáticos, e uma maior parte imigrantes ilegais, portanto, submetidos aos sonhos de uma educação "a francesa" e aos riscos do preconceito, da deportação, etc.

O Prof. Marin oscila entre uma paixão compromissada com a educação e a turma, e uma saturação/cansaço com a "diversidade" de objetivos, potenciais, histórias pessoais, etc., dos seus alunos.

O interessante disto tudo é como ele flerta o tempo todo com o autoritarismo num sistema educacional disciplinar que atua por vários (micro) vetores, tão poderosos quanto o "Conselho Disciplinar" que é convocado a atuar "legalmente" no final do filme. Não poderia aqui deixar de citar Foucault, já que este disciplinamento se aplica principalmente sobre os corpos dos alunos, que devem sempre levantar as mãos pra falar, pedir autorização para levantar das carteiras, etc.

Mas voltemos a Marin, que vejo aqui como a metáfora de todos nós educadores, seduzidos pela necessidade de usar a autoridade quando desafiados; em tempos de "Bullying" precisamos medir cada palavra, ação, opção avaliativa...tudo!

Mas relativizarei aqui, como bom cientista social que sou (rs), o assédio moral de Marin com seus alunos. O filme nos mostra o quanto ele também é assediado constantemente, testado, sufocado, como todos nós professores, todos os dias... sempre flertando com o autoritarismo.

Essa não é uma questão simples, envolve variáveis demais, mas cabe a reflexão; ser educador envolve estes desafios, entender a diversidade humana, não só a étnica, mas todas as variações do "ser humano", ou melhor dos "seres humanos".


"somos iguais; somos diferentes"


Recomendo a todos o filme, e aos barreirenses, em especial, o Solaris, espaço privilegiado de reflexão sobre tudo: o TODO e as PARTES.


Vejam o trailer do filme neste link:



Grandes abraços,


PS. Dedico este post a minha ex-aluna de Pedagogia Suene Rosa de Jesus, brilhante como aluna, brilhante como pessoa, que teve sua vida ceifada pelo ex-marido este mês na cidade de Gandu/BA.

quarta-feira, 30 de setembro de 2009

O Educador entre a militância acadêmica e a luta social


Essa semana assisti um filme com uma dupla de atores incríveis: Forester Withaker e Denzel Washington. O filme se chama "O Grande Debate" e creio que não foi muito divulgado aqui no Brasil. Este longa retrata uma pequena faculdade Negra (Nas primeiras décadas do séc. XX as escolas americanas era segregadas... volto a falar disto mais adiante!) onde um professor reunia alunos para montar a equipe de debate da faculdade, que competia com outras em todos os EUA em disputas como um julgamento, com temas relevantes da sociedade, uma equipe defendendo a favor e outra contra. Sei que muitas escolas ainda exploram essa metodologia de aprendizagem que me parece interessante, mas gostaria de ouvir aqui nos comentários minhas queridas alunas de pedagogia da UEFS sobre esta estratégia didática.
Bem, o interessante é que essa equipe era formada por jovens Negros que buscavam a máxima dedicação intelectual, como uma forma de mobilidade social, pela simples clareza de que numa sociedade extremamente racista o Negro precisava se apoderar ao máximo dos saberes acadêmicos. Alguns destes acabam até por se "desligar" da realidade social devido a esta postura "caxias" em excesso; essa questão é tematizada no filme, que questiona esta postura (essa questão muito me chama a atenção por ter, na minha trajetória acadêmica, buscado sempre articular estes dois ambitos da luta política: a universidade e a sociedade em geral).
O fato é que esse aprimoramento intelectual acaba por colaborar decisamente com a luta dos Negros nos EUA, já que muitos desses estudantes tornaram-se as principais lideranças políticas dos movimentos pelos direitos civis.
Mas quero também comentar sobre o papel de Denzel Washington, o professor Tolson (uma história real) que assume uma postura na história muito interessante. Ele, ao mesmo tempo em que preparava os seus alunos para serem brilhantes nos debates, vestia-se de camponês para clandestinamente discutir e organizar trabalhadores pobres (brancos e Negros) a lutarem contra a opressão capitalista, e sofre implacável perseguição da polícia local por ser "comunista". Lembremos que nesta época nos EUA ser "comunista" era mais "repugnante" para a elite branca do que ser Negro.
O fantástico da história é a persistência deste professor em buscar ser mais do que um bom professor, lutar apenas pelas bandeiras da educação, mas buscar também colaborar com os movimentos sociais, tarefa onde os educadores são agentes privilegiados, e que em muito podem colaborar.
O filme é fantástico, emocionante inclusive quando os alunos da pequena faculdade vão a Harvard debater com os alunos de lá e vencem a disputa. Me fez lembrar das minhas utopias pessoais, de um dia colaborar para que uma universidade periférica, pequena, como a nossa UFBA de Barreiras possa educar intelectuais capazes de se destacar em qualquer centro de excelência no Brasil. Me fez também lembrar de outra utopia minha, essa adormecida por um tempo, a de colaborar para a luta política geral, ultrapassando os limites do meu gabinete acadêmico, e me aproximando do calor real dos movimentos sociais urbanos e rurais.
Algumas notas:
Não sei se repararam que escrevi a palavra Negro sempre com "N" maiúsculo. O filme mostra que uma das primeiras grandes vitórias dos Negros americanos neste período foi obrigar os jornais a sempre publicarem a palavra "Nigro" com "N" maiúsculo, evitando essa relação negativa (que ainda ocorre principalmente no Brasil) com a idéia de obscuridade.
Como já comentei em outros post´s existem vários bons filmes que tematizam este período da educação americana, um em especial: "Duelo de titãs".

Vejam o trailer do filme neste link:
http://www.youtube.com/watch?v=kJhLwIwX1bg


Enormes abraços a todos,

terça-feira, 1 de setembro de 2009

A noção de Pureza e Perigo no filme "A Partida"


Queridos amigos,

Há muito não posto nada, estou tentando voltar aos poucos, ando com a vida a mil por hora devido especialmente as atividades da Assistência Estudantil aqui no ICADS.

Ontem vi um filme japonês fantástico chamado "A Partida", e ele me fez lembrar muito dos meus estudos sobre o SINDLIMP, na época do mestrado. Não que o filme fale da temática sindical/racial, mas porque ele recupera a dimensão da pureza e perigo (bem apresentada na obra de Mary Douglas) naqueles trabalhos considerados "sujos", "impuros". No filme o trabalho em questão é o de "acondicionador de corpos", ou seja, aqueles que arrumam o cadáver para ser colocado no caixão. Limpar, colocar tampões nos orifícios, e arrumar o corpo, atividades que causam repugnação em nossa cultura. No filme essa discussão é levantada, e aos poucos vamos percebendo, não só a importância desse trabalho, mas a dignidade com que ele é exercido.
Em muitas passagens o filme passeia pelo riso leve e criativo, e também pelo drama pessoal ligado a paternidade, que muito me tocou dado a minha história pessoal.
Recomendo, um ótimo filme japonês que não apela "para os perigos sobrenaturais" ...rs.
Espero voltar a postar com mais frequência.

Vejam o trailer legendado do filme no link:
http://www.youtube.com/watch?v=vNV5SxbTvKA

Grandes abraços,

quarta-feira, 21 de janeiro de 2009

Passado, presente, futuro - futuro, presente, passado


Hoje resolvi escrever sobre um filme, que vem sendo muito comentado ultimamente, chamado "O Curioso Caso de Benjamin Button" que conta uma história (de ficção) onde o protagonista nasce com todos os sintomas (biológicos) da velhice e aos poucos vai rejuvenescendo ao ponto de se tornar ao final um bebê (depois de já ter vivido 80 anos). Portanto, ele vive experiências biológicas invertidas, e isso vai também ter impactos na socialização dele. Ainda que nascido velho, ele recebe da mãe (adotiva, porque o pai biológico rejeita o "monstrinho" ao nascer) o carinho comum dado a um bebê, porém, no mundo afora, espera-se dele as experiências e saberes de um velho.

É essa confusão/cruzamento do caminho metabólico do nosso corpo biológico com o caminho experimental do nosso ser social que me chamou a atenção no filme, e remete aos constantes (e diria, ainda inconclusos) debates na antropologia, e também na Pedagogia, acerca da relação entre NATUREZA E CULTURA. No filme acredito ser possível perceber sim, uma influência daquele corpo biológico (por exemplo quando ele tinha 10 anos de vida com a aparência de 70 anos) na maneira como ele vivia as suas experiências sociais... como ele se SOCIALIZAVA. Mas por outro lado, é nítido em algumas passagens que a personalidade dele (e seu "domínio do mundo") se formava independentemente da sua condição biológica, sendo "determinado" pela forma em que ocorria a sua inserção no meio social.

Do ponto de vista técnico destaco a maquiagem (claro), mas me chamou mais a atenção, não quando ele fica mais velho, e sim, uma cena em que Brad Pitt é maquiado para ficar mais jovem, com a aparência de um jovem de 15 anos (aliás a última cena em que ele aparece no filme). Impressionante, fica parecendo animação de computador.

Por fim quero destacar o passeio histórico que o filme nos oferece; Benjamin viveu literalmente o "Breve século XX". ele nasce no dia em que acaba a primeira guerra mundial (1918) no meio das comemorações, e a medida que vai "crescendo" (rs) acompanha todas as principais transformações que vive a sociedade americana, como a crise de 29, a IIª guerra mundial e, no final, o "American Way of Life". Muito interessante esse pano de fundo do filme.

Bom, recomendo a todos ver o filme, e quem sabe depois ler o livro homônimo (conversava ontem com Fabiano sobre isso, se é melhor ler o livro antes, ou aproveitar a "facilidade" do cinema? - confesso que fico com a última opção), escrito por F. Scott Fitzgerald em 1921.


Veja o trailer do filme no YouTube:



Grandes abraços...


terça-feira, 13 de janeiro de 2009

A escola da vida


Vi ontem uma obra prima, provavelmente desconhecida de muito de vcs: "Slumdog Millionaire" de Danny Boyle, o mesmo diretor de "Trainspotting" (tenho original caso alguém se interesse) filme fantástico na linha de "Laranja Mecânica" com abordagem crua e ao mesmo tempo fantasiosa.

Bom, Slumdog conta a história de um jovem pobre, que nunca havia frequentado a escola, participando de um concurso de TV daqueles de perguntas e respostas (uma espécie de Jogo do Milhão indiano). De cara vai parecer um filme chato, com algumas passagens típicas dos filmes de Bolywood (que produz enlatados piores do que sua sósia americana).

O filme, usando o formato de ida e vindas no passado, vai explicando como que o jovem aprendeu cada resposta das perguntas que lhes foram feitas no concurso (uma parte perguntas bobas, outras um pouco mais difíceis). Foi aí que a ficha caiu para mim, o filme demonstra como a Escola da vida, da sobrevivência cotidiana numa situação de miséria e vulnerabilidade total, pode nos oferecer mil aprendizagens que podem ser necessárias no decorrer da nossa trajetória. Dessa forma o filme demonstra o quanto muitas vezes títulos acadêmicos mas sem prática no cotidiano, pouco podem nos preparar para as reais demandas da nossa vida.

O retrato da vida daquele jovem, (junto ao seu irmão e a uma pequena garota, todos aparentando entre 4 e 6 anos quando começam a jornada) é fascinante, especialmente quando mostra as diversas estratégias de sobrevivência através do trabalho (diversos tipos) em que eles vão se envolver.

É também um bom filme etnográfico, que descreve e reflete sobre a miséria existente na complexa sociedade indiana (a novela da Globo vem aí, provavelmente para fantasiar este mundo). Descreve também os conflitos religiosos entre hindus e muçulmanos, e o choque cultural gerado pelo atual momento de desenvolvimento econômico (para poucos) em curso na Índia.

Sou fascinado por filmes com esse caráter etnográfico e sócio-antropológico; nos últimos anos uma boa leva de filmes com esse perfil foram produzidos com foco na África (devorei todos eles), talvez agora seja o momento para esse foco mirar na Ásia. Acho que o último filme que vi nesse perfil foi "Paradise Now" (também tenho ori..., digo, tenho caso alguém queira ver...rs) que fala da Palestina, fantástico por sinal, ganhador do oscar de melhor filme estrangeiro.

Aliás falando em prêmios, "slumdog" venceu essa semana o Globo de Ouro de melhor filme dramático, e "Vicky Cristina Barcelona" (que comentei no post anterior) venceu o de melhor filme de comédia. De fato dois prêmios merecidos.

Quero dedicar esse post as minhas queridas alunas da UEFS (com as quais muito aprendi sobre a Pedagogia), acredito que ele nos oferece boas reflexões sobre a educação no seu sentido mais amplo.

Vale a pena ver, ótimo filme.


Veja o trailer no link abaixo:



Grandes abraços...

domingo, 11 de janeiro de 2009

Amor e sexo: conjugações possíveis



Acabei de ver um filme com Laura (que dessa vez assistiu na íntegra). "Vicky Cristina Barcelona". Um filme De Woody Allen, mas que bem poderia ser de Almodovar. Não só pelo óbvio de ser um filme ambientado em Barcelona (aliás cidade sedutora... quem me dera pudesse conhecê-la de perto), mas por ser um filme que quebra... reflete sobre tabus acerca de sexo, amor e casamento. Nesse filme cabe, desde uma jovem (Vicky) que tem clareza racional do quer afetivamente (casamentos planejados... muito comum hoje em dia) que pensa a família racionalmente (com relação a fins, como diria Weber), a uma outra jovem (Cristina) que não sabe o que quer e se lança ao novo constantemente, conseguindo fazer do novo, algo velho com uma rapidez impressionante.


Em alguns momentos o filme parece demonstrar que a vida a TRÊS seria mais "completa"como num triângulo, onde a saída de uma das partes não possibilita nenhuma nova combinação... Confesso que adorei essas reflexões (embora feliz com a vida a dois), já que quando jovem sempre me indaguei sobre essas questões, e como bom cientista procurei "experienciar" essas possibilidades.


Bom, de qualquer maneira o filme é belo, por mostrar um mundo rico culturalmente e leve (sonho de consumo de todo intelectual) com arte, música, prazeres e muito vinho, além de pessoas interessantes e ousadas (vide o personagem de Javier Bardem) a se conhecer.


Destaco também Penélope Cruz (linda e fantástica) representando uma mulher intensa que, apesar dos tiros, é o sonho de muitos homens. Aproveito para recomendar o filme "Fatal" com ela e Ben Kingsley sobre um professor mais velho que se apaixona por uma aluna perdidamente (não sabem como me identifiquei com esse filme).


Vale a pena ver, não sou especialista em Woody Allen, mas o que vi dele até então, sempre me agradou.





Vejam abaixo o trailer do filme:
http://br.youtube.com/watch?v=IcxA7TFUiXk

Grandes abraços...

quarta-feira, 7 de janeiro de 2009

A música do ABBA linkando épocas


Acabei de ver um filme chamado "Mama Mia!" com a fantástica Meryl Streep (que está impressionantemente linda neste filme). Um tanto água com açúcar, musical (não como Woody Allen), romântico, com uma história um tanto batida, mas algo me chamou a atenção nesse filme: a MÚSICA! Não só porque eram do ABBA, mas porque esse musical não tem músicas que falam do filme, mas um filme que fala das músicas (não sei se vcs me entenderam).
Durante todo o filme os maiores sucessos do ABBA se apresentam, de forma cômica, romântica, mas principalmente, saudosa.
É como se o ABBA fosse um símbolo de uma geração, não só do passado, mas também do presente, criando identidade entre essas épocas. Suas músicas lembram da década de 70, dos jovens ávidos por amor livre, entram na década de 80 com a disco music, as danças, as calças boca-de-sino, e chegam na década de 90 com a explosão da cultura GLBT, com o seu mundo fascinante que envolve todas as sexualidades.
Com a década de 70 só guardo uma referência histórica, dos livros, filmes que vi. Da década de 80, embora um adolescente, consigo lembrar das discotecas, dos meus tios ouvindo ABBA, indo para o CINE BRASIL, no bairro da liberdade onde "acontecia" uma discoteca, numa época de ouro da Liberdade (muito mais tranquila do que hoje). Com a década de 90... essa vivi muito, a minha juventude, o movimento estudantil, as festas pelo centro da cidade, sem dinheiro, os inferninhos da Carlos Gomes, a boate Holmes, um mundo literalmente "gay".
Boa parte dos meus amigos que acompanham este blog viveram essa época, aproveitaram-na. Eu vivo hoje uma outra fase, confesso que não sinto saudades, foi uma época... passou. Me sentiria um "adultescente" se ainda vivesse pelas madrugadas afora, hoje sinto prazer em outras coisas (como muitos já sabem, ir ao Shopping com meus filhos, ir ao parque e comer por lá), além é claro de ficar em casa vendo filmes, muitos filmes, com a minha Laura ao lado (embora quase sempre ela durma no meio do filme).
Mas queria fazer o registro: o ABBA marca uma geração; há muito não tirava o meu CD da poeira, mas amanhã certamente ouvirei muito "dancing queen".
Bom, mais uma indicação pouco intelectualizada...rs, acho que é a influência das férias, mais liberdade para sentir boas vibrações em filmes leves. Espero que gostem e comentem por aqui.

Clip da música Mama Mia! do ABBA (histórico)
http://www.youtube.com/watch?v=WY57jGNCN8Q&NR=1

Trailer legendado do filme:
http://www.youtube.com/watch?v=ZgCDK7XUQCs

Grandes abraços...

sábado, 3 de janeiro de 2009

O fascínio do cinema



Vi a pouco um filme, uma comédia, produção simples, chamado: "Rebobine por favor". O nome é uma alusão a uma vídeo locadora (coloco o hífen, ou junto as duas palavras? Esse novo acordo ortográfico...) que apenas aluga VHS e, como muitos diante da modernidade fugaz, se isola do mercado por não acompanhar a tecnologia - no início parece uma opção, como um apego ao tradicional, mas adiante veremos que não é bem por isso - como num bom filme nacional chamado Durval Discos onde o proprietário de uma loja insiste em apenas comercializar vinil (tenho o filme caso alguém tenha curiosidade). Acho que essa necessidade de se apegar ao passado, diante de transformações tão intensas e velozes do nosso "presente contínuo" é um fenômeno interessante que mereceria mais atenção (quem sabe alguém não post aqui um comentário sobre as sensações vividas numa "festa ploc" por exemplo? - sei que muitos dos meus amigos foram a uma dessas festas).


Mas, o que de fato me incentivou a escrever hoje, é uma fascinação presente no filme pelo cinema, pela produção de filmes, pela ficção, por se ver representando algo, explorando a criatividade diante de poucos recursos. Isso no filme é fantástico e já paga o ingresso. Os personagens por uma demanda bastante ficcional, começam a "suecar" os filmes, mas com um detalhe importante, os filmes deveriam explorar a criatividade, ter humor, e principalmente: SEREM CURTOS (2o min. em média). Pensei logo em como hoje as pessoas detestam filmes muito longos. Numa cena uma personagem chega a justificar que o cérebro só consegue se concentrar em algo de verdade nos primeiros vinte minutos. Curioso... (dá outro post esse tema).


E aí, como num momento meu de "rebobinar a fita" da minha memória (perceberam aí o trocadilho...rs) lembrei de um momento ímpar da minha trajetória, ocorrido em Outubro de 1997, numa viagem a Canudos/BA. Meu velho amigo Renato vai lembrar desse momento, quando eu, ele e Jane (uma colega da graduação na época muito próxima a nós dois) pusemos na cabeça que faríamos um documentário daquele viagem, ainda inspirados numa recente descoberta do grande Glauber Rocha. Lembro-me bem de quando subíamos todos o monte onde Conselheiro construiu uma igreja em Monte Santo, e como nos esforçávamos para gravar depoimentos sérios sobre aquele mágico lugar.


Adoro cinema, e sempre desejei produzir filmes, desejo compartilhado com Renato desde o tempo do colégio Central, e o filme mostra como isso é importante, não só individualmente, mas também para o meio em que se vive, aonde se procura dar sentido ao passado e ao presente, mesmo que tendo que criar hiper realidades (olha a dúvida do hífen de novo), como acontece no filme, para garantir o glamour daquelas trajetórias sofridas e periféricas.


O filme vale a pena, não é uma obra prima, mas ao brincar com a possibilidade de se criar um "trash cult", renova nos apaixonados pelo cinema um quê de "cinema Paradiso".


Espero que gostem das indicações, e mais uma vez peço que, depois de verem o filme, comentem aqui o que acharam.



Trailer do filme:
http://www.youtube.com/watch?v=zriWZrkyY0g

Grandes abraços...