quarta-feira, 21 de janeiro de 2009

Passado, presente, futuro - futuro, presente, passado


Hoje resolvi escrever sobre um filme, que vem sendo muito comentado ultimamente, chamado "O Curioso Caso de Benjamin Button" que conta uma história (de ficção) onde o protagonista nasce com todos os sintomas (biológicos) da velhice e aos poucos vai rejuvenescendo ao ponto de se tornar ao final um bebê (depois de já ter vivido 80 anos). Portanto, ele vive experiências biológicas invertidas, e isso vai também ter impactos na socialização dele. Ainda que nascido velho, ele recebe da mãe (adotiva, porque o pai biológico rejeita o "monstrinho" ao nascer) o carinho comum dado a um bebê, porém, no mundo afora, espera-se dele as experiências e saberes de um velho.

É essa confusão/cruzamento do caminho metabólico do nosso corpo biológico com o caminho experimental do nosso ser social que me chamou a atenção no filme, e remete aos constantes (e diria, ainda inconclusos) debates na antropologia, e também na Pedagogia, acerca da relação entre NATUREZA E CULTURA. No filme acredito ser possível perceber sim, uma influência daquele corpo biológico (por exemplo quando ele tinha 10 anos de vida com a aparência de 70 anos) na maneira como ele vivia as suas experiências sociais... como ele se SOCIALIZAVA. Mas por outro lado, é nítido em algumas passagens que a personalidade dele (e seu "domínio do mundo") se formava independentemente da sua condição biológica, sendo "determinado" pela forma em que ocorria a sua inserção no meio social.

Do ponto de vista técnico destaco a maquiagem (claro), mas me chamou mais a atenção, não quando ele fica mais velho, e sim, uma cena em que Brad Pitt é maquiado para ficar mais jovem, com a aparência de um jovem de 15 anos (aliás a última cena em que ele aparece no filme). Impressionante, fica parecendo animação de computador.

Por fim quero destacar o passeio histórico que o filme nos oferece; Benjamin viveu literalmente o "Breve século XX". ele nasce no dia em que acaba a primeira guerra mundial (1918) no meio das comemorações, e a medida que vai "crescendo" (rs) acompanha todas as principais transformações que vive a sociedade americana, como a crise de 29, a IIª guerra mundial e, no final, o "American Way of Life". Muito interessante esse pano de fundo do filme.

Bom, recomendo a todos ver o filme, e quem sabe depois ler o livro homônimo (conversava ontem com Fabiano sobre isso, se é melhor ler o livro antes, ou aproveitar a "facilidade" do cinema? - confesso que fico com a última opção), escrito por F. Scott Fitzgerald em 1921.


Veja o trailer do filme no YouTube:



Grandes abraços...


terça-feira, 13 de janeiro de 2009

A escola da vida


Vi ontem uma obra prima, provavelmente desconhecida de muito de vcs: "Slumdog Millionaire" de Danny Boyle, o mesmo diretor de "Trainspotting" (tenho original caso alguém se interesse) filme fantástico na linha de "Laranja Mecânica" com abordagem crua e ao mesmo tempo fantasiosa.

Bom, Slumdog conta a história de um jovem pobre, que nunca havia frequentado a escola, participando de um concurso de TV daqueles de perguntas e respostas (uma espécie de Jogo do Milhão indiano). De cara vai parecer um filme chato, com algumas passagens típicas dos filmes de Bolywood (que produz enlatados piores do que sua sósia americana).

O filme, usando o formato de ida e vindas no passado, vai explicando como que o jovem aprendeu cada resposta das perguntas que lhes foram feitas no concurso (uma parte perguntas bobas, outras um pouco mais difíceis). Foi aí que a ficha caiu para mim, o filme demonstra como a Escola da vida, da sobrevivência cotidiana numa situação de miséria e vulnerabilidade total, pode nos oferecer mil aprendizagens que podem ser necessárias no decorrer da nossa trajetória. Dessa forma o filme demonstra o quanto muitas vezes títulos acadêmicos mas sem prática no cotidiano, pouco podem nos preparar para as reais demandas da nossa vida.

O retrato da vida daquele jovem, (junto ao seu irmão e a uma pequena garota, todos aparentando entre 4 e 6 anos quando começam a jornada) é fascinante, especialmente quando mostra as diversas estratégias de sobrevivência através do trabalho (diversos tipos) em que eles vão se envolver.

É também um bom filme etnográfico, que descreve e reflete sobre a miséria existente na complexa sociedade indiana (a novela da Globo vem aí, provavelmente para fantasiar este mundo). Descreve também os conflitos religiosos entre hindus e muçulmanos, e o choque cultural gerado pelo atual momento de desenvolvimento econômico (para poucos) em curso na Índia.

Sou fascinado por filmes com esse caráter etnográfico e sócio-antropológico; nos últimos anos uma boa leva de filmes com esse perfil foram produzidos com foco na África (devorei todos eles), talvez agora seja o momento para esse foco mirar na Ásia. Acho que o último filme que vi nesse perfil foi "Paradise Now" (também tenho ori..., digo, tenho caso alguém queira ver...rs) que fala da Palestina, fantástico por sinal, ganhador do oscar de melhor filme estrangeiro.

Aliás falando em prêmios, "slumdog" venceu essa semana o Globo de Ouro de melhor filme dramático, e "Vicky Cristina Barcelona" (que comentei no post anterior) venceu o de melhor filme de comédia. De fato dois prêmios merecidos.

Quero dedicar esse post as minhas queridas alunas da UEFS (com as quais muito aprendi sobre a Pedagogia), acredito que ele nos oferece boas reflexões sobre a educação no seu sentido mais amplo.

Vale a pena ver, ótimo filme.


Veja o trailer no link abaixo:



Grandes abraços...

domingo, 11 de janeiro de 2009

Amor e sexo: conjugações possíveis



Acabei de ver um filme com Laura (que dessa vez assistiu na íntegra). "Vicky Cristina Barcelona". Um filme De Woody Allen, mas que bem poderia ser de Almodovar. Não só pelo óbvio de ser um filme ambientado em Barcelona (aliás cidade sedutora... quem me dera pudesse conhecê-la de perto), mas por ser um filme que quebra... reflete sobre tabus acerca de sexo, amor e casamento. Nesse filme cabe, desde uma jovem (Vicky) que tem clareza racional do quer afetivamente (casamentos planejados... muito comum hoje em dia) que pensa a família racionalmente (com relação a fins, como diria Weber), a uma outra jovem (Cristina) que não sabe o que quer e se lança ao novo constantemente, conseguindo fazer do novo, algo velho com uma rapidez impressionante.


Em alguns momentos o filme parece demonstrar que a vida a TRÊS seria mais "completa"como num triângulo, onde a saída de uma das partes não possibilita nenhuma nova combinação... Confesso que adorei essas reflexões (embora feliz com a vida a dois), já que quando jovem sempre me indaguei sobre essas questões, e como bom cientista procurei "experienciar" essas possibilidades.


Bom, de qualquer maneira o filme é belo, por mostrar um mundo rico culturalmente e leve (sonho de consumo de todo intelectual) com arte, música, prazeres e muito vinho, além de pessoas interessantes e ousadas (vide o personagem de Javier Bardem) a se conhecer.


Destaco também Penélope Cruz (linda e fantástica) representando uma mulher intensa que, apesar dos tiros, é o sonho de muitos homens. Aproveito para recomendar o filme "Fatal" com ela e Ben Kingsley sobre um professor mais velho que se apaixona por uma aluna perdidamente (não sabem como me identifiquei com esse filme).


Vale a pena ver, não sou especialista em Woody Allen, mas o que vi dele até então, sempre me agradou.





Vejam abaixo o trailer do filme:
http://br.youtube.com/watch?v=IcxA7TFUiXk

Grandes abraços...

quarta-feira, 7 de janeiro de 2009

A música do ABBA linkando épocas


Acabei de ver um filme chamado "Mama Mia!" com a fantástica Meryl Streep (que está impressionantemente linda neste filme). Um tanto água com açúcar, musical (não como Woody Allen), romântico, com uma história um tanto batida, mas algo me chamou a atenção nesse filme: a MÚSICA! Não só porque eram do ABBA, mas porque esse musical não tem músicas que falam do filme, mas um filme que fala das músicas (não sei se vcs me entenderam).
Durante todo o filme os maiores sucessos do ABBA se apresentam, de forma cômica, romântica, mas principalmente, saudosa.
É como se o ABBA fosse um símbolo de uma geração, não só do passado, mas também do presente, criando identidade entre essas épocas. Suas músicas lembram da década de 70, dos jovens ávidos por amor livre, entram na década de 80 com a disco music, as danças, as calças boca-de-sino, e chegam na década de 90 com a explosão da cultura GLBT, com o seu mundo fascinante que envolve todas as sexualidades.
Com a década de 70 só guardo uma referência histórica, dos livros, filmes que vi. Da década de 80, embora um adolescente, consigo lembrar das discotecas, dos meus tios ouvindo ABBA, indo para o CINE BRASIL, no bairro da liberdade onde "acontecia" uma discoteca, numa época de ouro da Liberdade (muito mais tranquila do que hoje). Com a década de 90... essa vivi muito, a minha juventude, o movimento estudantil, as festas pelo centro da cidade, sem dinheiro, os inferninhos da Carlos Gomes, a boate Holmes, um mundo literalmente "gay".
Boa parte dos meus amigos que acompanham este blog viveram essa época, aproveitaram-na. Eu vivo hoje uma outra fase, confesso que não sinto saudades, foi uma época... passou. Me sentiria um "adultescente" se ainda vivesse pelas madrugadas afora, hoje sinto prazer em outras coisas (como muitos já sabem, ir ao Shopping com meus filhos, ir ao parque e comer por lá), além é claro de ficar em casa vendo filmes, muitos filmes, com a minha Laura ao lado (embora quase sempre ela durma no meio do filme).
Mas queria fazer o registro: o ABBA marca uma geração; há muito não tirava o meu CD da poeira, mas amanhã certamente ouvirei muito "dancing queen".
Bom, mais uma indicação pouco intelectualizada...rs, acho que é a influência das férias, mais liberdade para sentir boas vibrações em filmes leves. Espero que gostem e comentem por aqui.

Clip da música Mama Mia! do ABBA (histórico)
http://www.youtube.com/watch?v=WY57jGNCN8Q&NR=1

Trailer legendado do filme:
http://www.youtube.com/watch?v=ZgCDK7XUQCs

Grandes abraços...

sábado, 3 de janeiro de 2009

O fascínio do cinema



Vi a pouco um filme, uma comédia, produção simples, chamado: "Rebobine por favor". O nome é uma alusão a uma vídeo locadora (coloco o hífen, ou junto as duas palavras? Esse novo acordo ortográfico...) que apenas aluga VHS e, como muitos diante da modernidade fugaz, se isola do mercado por não acompanhar a tecnologia - no início parece uma opção, como um apego ao tradicional, mas adiante veremos que não é bem por isso - como num bom filme nacional chamado Durval Discos onde o proprietário de uma loja insiste em apenas comercializar vinil (tenho o filme caso alguém tenha curiosidade). Acho que essa necessidade de se apegar ao passado, diante de transformações tão intensas e velozes do nosso "presente contínuo" é um fenômeno interessante que mereceria mais atenção (quem sabe alguém não post aqui um comentário sobre as sensações vividas numa "festa ploc" por exemplo? - sei que muitos dos meus amigos foram a uma dessas festas).


Mas, o que de fato me incentivou a escrever hoje, é uma fascinação presente no filme pelo cinema, pela produção de filmes, pela ficção, por se ver representando algo, explorando a criatividade diante de poucos recursos. Isso no filme é fantástico e já paga o ingresso. Os personagens por uma demanda bastante ficcional, começam a "suecar" os filmes, mas com um detalhe importante, os filmes deveriam explorar a criatividade, ter humor, e principalmente: SEREM CURTOS (2o min. em média). Pensei logo em como hoje as pessoas detestam filmes muito longos. Numa cena uma personagem chega a justificar que o cérebro só consegue se concentrar em algo de verdade nos primeiros vinte minutos. Curioso... (dá outro post esse tema).


E aí, como num momento meu de "rebobinar a fita" da minha memória (perceberam aí o trocadilho...rs) lembrei de um momento ímpar da minha trajetória, ocorrido em Outubro de 1997, numa viagem a Canudos/BA. Meu velho amigo Renato vai lembrar desse momento, quando eu, ele e Jane (uma colega da graduação na época muito próxima a nós dois) pusemos na cabeça que faríamos um documentário daquele viagem, ainda inspirados numa recente descoberta do grande Glauber Rocha. Lembro-me bem de quando subíamos todos o monte onde Conselheiro construiu uma igreja em Monte Santo, e como nos esforçávamos para gravar depoimentos sérios sobre aquele mágico lugar.


Adoro cinema, e sempre desejei produzir filmes, desejo compartilhado com Renato desde o tempo do colégio Central, e o filme mostra como isso é importante, não só individualmente, mas também para o meio em que se vive, aonde se procura dar sentido ao passado e ao presente, mesmo que tendo que criar hiper realidades (olha a dúvida do hífen de novo), como acontece no filme, para garantir o glamour daquelas trajetórias sofridas e periféricas.


O filme vale a pena, não é uma obra prima, mas ao brincar com a possibilidade de se criar um "trash cult", renova nos apaixonados pelo cinema um quê de "cinema Paradiso".


Espero que gostem das indicações, e mais uma vez peço que, depois de verem o filme, comentem aqui o que acharam.



Trailer do filme:
http://www.youtube.com/watch?v=zriWZrkyY0g

Grandes abraços...