segunda-feira, 28 de dezembro de 2009

O Eterno dilema da disciplina na educação


A questão da disciplina acompanha o debate sobre os rumos da educação a muito tempo, pelo menos, desde quando comecei a dar aula em cursos de Pedagogia em 2002. A preocupação em obter resultados acadêmicos quase sempre leva os educadores a crer que o fortalecimento da disciplina resolveria o problema. Alunos dóceis, que sempre pedem pra ir ao banheiro, que respondem a tudo com um alto “yes sir!!!” é o sonho de todo professor (o meu também, não vou esconder). Filmes que abordam essa temática são muitos. Hoje assisti a mais um, “Coach Carter: Treino para a vida”, que pra variar, relaciona esporte e educação, motivo de orgulho para os (norte) americanos, com seus grandes resultados nas olimpíadas, mas que na verdade, esconde um sistema cruel que poucas vezes cria estudantes-atletas, e que compra jovens pobres (na maioria afro-americanos) com bolsas de estudo apenas (e para apenas) por serem bons em algum esporte (basquete normalmente).

O filme é justamente feliz por fazer essa crítica, mostrar que as próprias escolas esperam destes alunos apenas resultados nas quadras ou campos. Lembro de um filme muito bom chamado “Encontrando Forrester” que contava a história de um brilhante aluno tanto no basquete quanto nos livros… recomendo.

Em “Coach Carter” o treinador visualiza isso e começa a exigir de seus alunos resultados nas notas tão bons quanto nas quadras, e aí recorre aos instrumentos autoritários (e geralmente militarizados) comuns nestes filmes. Exercícios físicos, proibições em geral, e aqui e acolá pérolas de assédio moral são implementados e… obviamente: "DÃO RESULTADO!. “Que maravilha!” - pensamos nós educadores. Disciplina é a solução.

Confesso que ainda tenho pouca clareza quanto a isso, mas me incomoda essa ideia autoritária que os filmes reproduzem, atos duros cheios de boas intenções. É claro que adoraria ter disciplina, respeito, dedicação espartana entre meus alunos, mas tenho medo de cobrar por igual aqueles que são diferentes. “Lugares comuns”, métodos lineares, quase sempre deixam muitos pelo caminho, e na maioria das vezes, não se perguntam porque esses ficaram.

Permaneço achando que precisamos continuar refletindo sobre a educação, desejando nos tornar hérois como os “treinadores” desses filmes (recomendo também “Duelo de titãs” com temática muito semelhante), mas sempre tomando o devido cuidado para não reproduzir estratégias draconianas demais em nome das boas intenções.

O filme erra muito, mas também acerta muito. Reproduz clichês comuns em filmes sobre esportes como terminar sempre numa longa cena de um grande e decisivo jogo (embora com uma certa surpresa no final), mas inova quando inclui entre os jovens vitimizados não só afro-americanos mas também os descendentes de latino-americanos em geral, que hoje sofrem tanto, e em alguns casos até mais, nos EUA quanto os negros (recomendo sobre essa temática o filme “Escritores da Liberdade”). Vale a pena assistir e ampliar o debate, a EDUCAÇÃO precisa disso.

Veja o trailer do filme no link:

http://www.youtube.com/watch?v=F-s6osgsFug

Grandes abraços,

domingo, 20 de dezembro de 2009

A misantropia dos intelectuais no foco de Woody Allen


A taxa de porcaria dos filmes que assisto estava aumentando essa semana (só para exemplificar: "Harry Potter" "Garota Infernal") quando por acaso resolvi ver um filme, sem ao menos saber que era de Woody Allen: "Tudo pode dar certo" (Whatever Works). O nome clichê deve ser uma provocação a pouca paciência (característica central de Boris, centro do filme) com o seu uso constante entre as pessoas com "QI abaixo de 100". Boris é o autêntico intelectual arrogante, aquele que ao estudar ao extremo (todos os títulos possíveis) acaba penetrando, ou melhor, ascendendo a um outro mundo, um outro patamar de percepção da realidade, exclusivo aos intelectuais. Daí a crítica as "pessoas comuns" chega a um patamar cômico. Tudo é questionado filo-físico-antropologicamente, da existência do amor, à necessidade do sexo. Empenhado nessa reflexão de botequim para poucos, o autor se isola do mundo, buscando apenas o convívio de seus poucos amigos também intelectuais\professores, reunidos nos botequins boêmios de Nova Iorque (como é a cara de Allen).

Outro aspecto interessante do filme e análise das possibilidades de um intelectual (no caso dele um físico... rs, especialista em mecânica quântica) se envolver afetivamente, quiçá casar, com um ser do "outro mundo" rs, digo, que não tenha estudado, ou que não consiga entender sobre cinema cult, bons vinhos, livros, entre outras coisas (me divertiria muito se tentasse ampliar essa lista rememorando os meus antigos e novos amigos intelectuais).

Bom, agora o porquê deste filme ter me chamado tanto a atenção: quem me conhece bem já deve ter percebido. Ele me lembra demais o "meu mundo de cá" Sim! Porque eu tenho dois mundos opostos que envolvem minha vida: o "de cá" acadêmico, intelectual, quase religioso, e o "de lá" popular, simples, quase profano.
É muito massa esse intercâmbio (rs), mas me delicio mesmo quando reúno-me nas rodas sarcásticas, misantropas dos meus amigos "intelectuais" (Gramsci me perdoe pelo mau uso do conceito). Entre a chatologia e a pura má vontade com o mundo, muitas gargalhadas consigo nestes momentos.
Quem é desse meio vai gostar (e se identificar) muito com o filme... recomendo.

P.S. Este é o primeiro arquivo de vídeo que recebo que vem com um glossário (mais de 20 verbetes) com as expressões principais que surgem no vídeo. Reproduzo aqui o verbete sobre Misantropia:
MISANTROPIA - é a aversão ao ser humano e à natureza humana no geral. Também engloba uma posição de desconfiança e tendência para antipatizar com outras pessoas. Um misantropo é alguém que odeia a humanidade de uma forma generalizada. O termo também é aplicável a todos aqueles que se tornam solitários por causa dos sentimentos acima mencionados (de destacar o elevado grau de desconfiança que detêm pelas outras ).

Veja o trailer legendado (em HD) no link:
http://www.youtube.com/watch?v=A6xDaMsDPw0

Grandes abraços,

segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

Cinema e Cozinha: Finalmente um bom filme



Há muito que não me interessava por filmes sobre temas gastronômicos, até porque a maioria deles eram muito ruins, lembro até de um que se passava num bar no humaitá em Salvador, produção americana, horrível, tanto que nem lembro o nome (apenas lembro que era com Murilo Benício em início de carreira).
Acabei de ver um: "Julie & julia" realmente muito bom, mas não porque fala de comida (francesa), mas porque envolve tantas coisas, e muitas delas mexem comigo.

A primeira delas é sobre um livro (no filme um livro de receitas) que acaba se tornando uma espécie de manual de instruções para a vida de uma das personagens. Quantos livros já lidos me envolveram, lembro, por exemplo, quando li "Batismo de Sangue" de Frei Beto, e o quanto me identifiquei, representei (muitas vezes caricaturalmente) muitos daqueles personagens. No filme Julie incorpora Júlia, na cozinha e na vida... idolatrando-a.

Outro elemento interessante do filme é o poder do Blog... esse espaço de publicização\exibição de intimidades cada vez mais usado por todos nós. No filme a autora estabelece uma meta: fazer cerca de 500 receitas do livro em um ano, e vai relatando, dia a dia, suas aventuras na cozinha (e em outros espaços da casa...rs). Tem uma cena em especial que me fez rir muito, quando ela fica hiper ansiosa por um comentário nos seus post's. Acho que todos que possuem um blog (até eu que pouco escrevo aqui) ficam desejando um comentário, olhando o blog todo o dia na esperança de um "adorei", "tá legal", etc. No filme o primeiro comentário no blog era da mãe dela: "mãe não conta"...rs.

Ri muito com o filme, e pra variar me identifiquei com algumas situações... vale a pena ver, seja por Meryl Streep, pela comida (francesa), pelas paisagens parisienses, e pelo vai-e-vem entre 1949 e 2002... realmente um filme inteligente. Acho até que vou estabelecer umas metas aqui no meu blog, como, por exemplo, assistir 30 filmes nessas férias e postar sobre todos aqui! Calma, não cometerei essa sandice, até porque a taxa de porcaria do que vejo beira os 30%...rs.

Vejam o trailer legendado (em HD) no link:
http://www.youtube.com/watch?v=vjvJHsJD8ic

Grandes abraços...