quarta-feira, 30 de setembro de 2009

O Educador entre a militância acadêmica e a luta social


Essa semana assisti um filme com uma dupla de atores incríveis: Forester Withaker e Denzel Washington. O filme se chama "O Grande Debate" e creio que não foi muito divulgado aqui no Brasil. Este longa retrata uma pequena faculdade Negra (Nas primeiras décadas do séc. XX as escolas americanas era segregadas... volto a falar disto mais adiante!) onde um professor reunia alunos para montar a equipe de debate da faculdade, que competia com outras em todos os EUA em disputas como um julgamento, com temas relevantes da sociedade, uma equipe defendendo a favor e outra contra. Sei que muitas escolas ainda exploram essa metodologia de aprendizagem que me parece interessante, mas gostaria de ouvir aqui nos comentários minhas queridas alunas de pedagogia da UEFS sobre esta estratégia didática.
Bem, o interessante é que essa equipe era formada por jovens Negros que buscavam a máxima dedicação intelectual, como uma forma de mobilidade social, pela simples clareza de que numa sociedade extremamente racista o Negro precisava se apoderar ao máximo dos saberes acadêmicos. Alguns destes acabam até por se "desligar" da realidade social devido a esta postura "caxias" em excesso; essa questão é tematizada no filme, que questiona esta postura (essa questão muito me chama a atenção por ter, na minha trajetória acadêmica, buscado sempre articular estes dois ambitos da luta política: a universidade e a sociedade em geral).
O fato é que esse aprimoramento intelectual acaba por colaborar decisamente com a luta dos Negros nos EUA, já que muitos desses estudantes tornaram-se as principais lideranças políticas dos movimentos pelos direitos civis.
Mas quero também comentar sobre o papel de Denzel Washington, o professor Tolson (uma história real) que assume uma postura na história muito interessante. Ele, ao mesmo tempo em que preparava os seus alunos para serem brilhantes nos debates, vestia-se de camponês para clandestinamente discutir e organizar trabalhadores pobres (brancos e Negros) a lutarem contra a opressão capitalista, e sofre implacável perseguição da polícia local por ser "comunista". Lembremos que nesta época nos EUA ser "comunista" era mais "repugnante" para a elite branca do que ser Negro.
O fantástico da história é a persistência deste professor em buscar ser mais do que um bom professor, lutar apenas pelas bandeiras da educação, mas buscar também colaborar com os movimentos sociais, tarefa onde os educadores são agentes privilegiados, e que em muito podem colaborar.
O filme é fantástico, emocionante inclusive quando os alunos da pequena faculdade vão a Harvard debater com os alunos de lá e vencem a disputa. Me fez lembrar das minhas utopias pessoais, de um dia colaborar para que uma universidade periférica, pequena, como a nossa UFBA de Barreiras possa educar intelectuais capazes de se destacar em qualquer centro de excelência no Brasil. Me fez também lembrar de outra utopia minha, essa adormecida por um tempo, a de colaborar para a luta política geral, ultrapassando os limites do meu gabinete acadêmico, e me aproximando do calor real dos movimentos sociais urbanos e rurais.
Algumas notas:
Não sei se repararam que escrevi a palavra Negro sempre com "N" maiúsculo. O filme mostra que uma das primeiras grandes vitórias dos Negros americanos neste período foi obrigar os jornais a sempre publicarem a palavra "Nigro" com "N" maiúsculo, evitando essa relação negativa (que ainda ocorre principalmente no Brasil) com a idéia de obscuridade.
Como já comentei em outros post´s existem vários bons filmes que tematizam este período da educação americana, um em especial: "Duelo de titãs".

Vejam o trailer do filme neste link:
http://www.youtube.com/watch?v=kJhLwIwX1bg


Enormes abraços a todos,

terça-feira, 1 de setembro de 2009

A noção de Pureza e Perigo no filme "A Partida"


Queridos amigos,

Há muito não posto nada, estou tentando voltar aos poucos, ando com a vida a mil por hora devido especialmente as atividades da Assistência Estudantil aqui no ICADS.

Ontem vi um filme japonês fantástico chamado "A Partida", e ele me fez lembrar muito dos meus estudos sobre o SINDLIMP, na época do mestrado. Não que o filme fale da temática sindical/racial, mas porque ele recupera a dimensão da pureza e perigo (bem apresentada na obra de Mary Douglas) naqueles trabalhos considerados "sujos", "impuros". No filme o trabalho em questão é o de "acondicionador de corpos", ou seja, aqueles que arrumam o cadáver para ser colocado no caixão. Limpar, colocar tampões nos orifícios, e arrumar o corpo, atividades que causam repugnação em nossa cultura. No filme essa discussão é levantada, e aos poucos vamos percebendo, não só a importância desse trabalho, mas a dignidade com que ele é exercido.
Em muitas passagens o filme passeia pelo riso leve e criativo, e também pelo drama pessoal ligado a paternidade, que muito me tocou dado a minha história pessoal.
Recomendo, um ótimo filme japonês que não apela "para os perigos sobrenaturais" ...rs.
Espero voltar a postar com mais frequência.

Vejam o trailer legendado do filme no link:
http://www.youtube.com/watch?v=vNV5SxbTvKA

Grandes abraços,