sábado, 24 de outubro de 2009

Uma lente de aumento na sala de aula



Ontem, 23/10 (sexta), vi na Sessão Solaris um filme fantástico, diferente de tudo que já vi sobre educação, "Entre os muros da escola" produção francesa de Laurent Cantet, que "FOUCALIZA" uma turma de 8ª série numa escola pública francesa com forte presença de estudantes imigrantes.

Bem, antes de comentar sobre o filme vou descrever um pouco aqui o que é a Sessão Solaris. Quando cheguei em Barreiras, em março deste ano encontrei colegas, novos e antigos, dispostos a se organizar num núcleo de Humanidades, dentro de um campus fortemente marcado pela presença das Exatas. De cara surgiu a proposta de recuperar um projeto anterior do Prof. Márcio Lima de exibição de filmes seguido de debates. Funciona assim: todo mês escolhemos um tema e exibimos filmes nas sextas-feira, reservando a última do mês para a realização de um debate/mesa-redonda sobre este tema. Este mês de outubro o tema é "Educação e Diversidade Cultural" e já exibimos os filmes: "Pro Dia Nascer Feliz" (documentário); "Escritores da Liberdade" e "Nenhum a Menos" (produção chinesa). Ontem, portanto, penúltima sexta do mês, exibimos "Entre os Muros da Escola" e como já não acontecia a tempos, tivemos um público muito bom e animado.

Bom, o filme conta a história do Prof. Marin, que leciona Francês para alunos adolescentes de várias origens étnicas, alguns franceses "tipicamente europeus", outros nascidos na França mas etnicamente africanos, asiáticos, e uma maior parte imigrantes ilegais, portanto, submetidos aos sonhos de uma educação "a francesa" e aos riscos do preconceito, da deportação, etc.

O Prof. Marin oscila entre uma paixão compromissada com a educação e a turma, e uma saturação/cansaço com a "diversidade" de objetivos, potenciais, histórias pessoais, etc., dos seus alunos.

O interessante disto tudo é como ele flerta o tempo todo com o autoritarismo num sistema educacional disciplinar que atua por vários (micro) vetores, tão poderosos quanto o "Conselho Disciplinar" que é convocado a atuar "legalmente" no final do filme. Não poderia aqui deixar de citar Foucault, já que este disciplinamento se aplica principalmente sobre os corpos dos alunos, que devem sempre levantar as mãos pra falar, pedir autorização para levantar das carteiras, etc.

Mas voltemos a Marin, que vejo aqui como a metáfora de todos nós educadores, seduzidos pela necessidade de usar a autoridade quando desafiados; em tempos de "Bullying" precisamos medir cada palavra, ação, opção avaliativa...tudo!

Mas relativizarei aqui, como bom cientista social que sou (rs), o assédio moral de Marin com seus alunos. O filme nos mostra o quanto ele também é assediado constantemente, testado, sufocado, como todos nós professores, todos os dias... sempre flertando com o autoritarismo.

Essa não é uma questão simples, envolve variáveis demais, mas cabe a reflexão; ser educador envolve estes desafios, entender a diversidade humana, não só a étnica, mas todas as variações do "ser humano", ou melhor dos "seres humanos".


"somos iguais; somos diferentes"


Recomendo a todos o filme, e aos barreirenses, em especial, o Solaris, espaço privilegiado de reflexão sobre tudo: o TODO e as PARTES.


Vejam o trailer do filme neste link:



Grandes abraços,


PS. Dedico este post a minha ex-aluna de Pedagogia Suene Rosa de Jesus, brilhante como aluna, brilhante como pessoa, que teve sua vida ceifada pelo ex-marido este mês na cidade de Gandu/BA.