A questão da disciplina acompanha o debate sobre os rumos da educação a muito tempo, pelo menos, desde quando comecei a dar aula em cursos de Pedagogia em 2002. A preocupação em obter resultados acadêmicos quase sempre leva os educadores a crer que o fortalecimento da disciplina resolveria o problema. Alunos dóceis, que sempre pedem pra ir ao banheiro, que respondem a tudo com um alto “yes sir!!!” é o sonho de todo professor (o meu também, não vou esconder). Filmes que abordam essa temática são muitos. Hoje assisti a mais um, “Coach Carter: Treino para a vida”, que pra variar, relaciona esporte e educação, motivo de orgulho para os (norte) americanos, com seus grandes resultados nas olimpíadas, mas que na verdade, esconde um sistema cruel que poucas vezes cria estudantes-atletas, e que compra jovens pobres (na maioria afro-americanos) com bolsas de estudo apenas (e para apenas) por serem bons em algum esporte (basquete normalmente).
O filme é justamente feliz por fazer essa crítica, mostrar que as próprias escolas esperam destes alunos apenas resultados nas quadras ou campos. Lembro de um filme muito bom chamado “Encontrando Forrester” que contava a história de um brilhante aluno tanto no basquete quanto nos livros… recomendo.
Em “Coach Carter” o treinador visualiza isso e começa a exigir de seus alunos resultados nas notas tão bons quanto nas quadras, e aí recorre aos instrumentos autoritários (e geralmente militarizados) comuns nestes filmes. Exercícios físicos, proibições em geral, e aqui e acolá pérolas de assédio moral são implementados e… obviamente: "DÃO RESULTADO!. “Que maravilha!” - pensamos nós educadores. Disciplina é a solução.
Confesso que ainda tenho pouca clareza quanto a isso, mas me incomoda essa ideia autoritária que os filmes reproduzem, atos duros cheios de boas intenções. É claro que adoraria ter disciplina, respeito, dedicação espartana entre meus alunos, mas tenho medo de cobrar por igual aqueles que são diferentes. “Lugares comuns”, métodos lineares, quase sempre deixam muitos pelo caminho, e na maioria das vezes, não se perguntam porque esses ficaram.
Permaneço achando que precisamos continuar refletindo sobre a educação, desejando nos tornar hérois como os “treinadores” desses filmes (recomendo também “Duelo de titãs” com temática muito semelhante), mas sempre tomando o devido cuidado para não reproduzir estratégias draconianas demais em nome das boas intenções.
O filme erra muito, mas também acerta muito. Reproduz clichês comuns em filmes sobre esportes como terminar sempre numa longa cena de um grande e decisivo jogo (embora com uma certa surpresa no final), mas inova quando inclui entre os jovens vitimizados não só afro-americanos mas também os descendentes de latino-americanos em geral, que hoje sofrem tanto, e em alguns casos até mais, nos EUA quanto os negros (recomendo sobre essa temática o filme “Escritores da Liberdade”). Vale a pena assistir e ampliar o debate, a EDUCAÇÃO precisa disso.
Veja o trailer do filme no link:
http://www.youtube.com/watch?v=F-s6osgsFug
Grandes abraços,