terça-feira, 16 de abril de 2013

Filhos, Universidade e Assistência Estudantil


Hoje vi um filme que havia “adquirido” já faz algum tempo. O nome em português é “O Amor de um Pai” e conta a história de um jovem pai que precisou estudar em Harvard cuidando sozinho de um filho recém-nascido. Já na sinopse me perguntei: o que teria acontecido com a mãe? Teria morrido no parto? Bom, lá pela metade do filme descobrimos que a mãe abandonou os dois (o pai e o bebê) para voltar para a cidade de origem. Claro que o roteiro nos leva a um julgamento daquela mãe, já que no filme não é discutido de forma clara a razão do abandono, que, com um olhar mais atento, fica evidente ter sido motivado por um adoecimento mental da mãe, que entra em depressão pelo afastamento da família, devido às dificuldades de cuidar de um bebê tendo apenas dezessete anos, além de se sentir secundária como esposa que deve sorridentemente sustentar as condições objetivas para que o pai possa estudar. Bem, sabemos que a grande maioria das jovens mães acabam sendo obrigadas a cumprir este papel, e muitas sofrem, e muito, com isso. Nunca tinha tido a real imagem de uma depressão pós-parto. Laura (acredito) passou bem por esta fase duas vezes, mas nos últimos meses convivi com situações muito sérias deste problema aqui em Barreiras. Me ví diante da minha incapacidade, e dos meus colegas, de acolher estas jovens mães na universidade. Aliás, acolhimento é tudo que falta à universidade.

E é exatamente sobre isso que o filme trata: como a universidade se comporta diante destas realidades vulneráveis. No filme a figura da reitora é a antagonista da figura de um professor de Cálculo, e neste caso (por incrível que pareça) o assédio moral vinha da reitora, enquanto o professor fazia o máximo de esforço para que o aluno superasse o seu bloqueio com a disciplina de cálculo (qualquer semelhança com ICADS é mera coincidência). A reitora representava fielmente a universidade que não admite aquele que não seja um “estudante pronto”, aquele que, se chegou a Harvard, tem que ser o autêntico estudante profissional, totalmente e exclusivamente dedicado à universidade, que, assim sendo, não deve esperar da universidade nada além de bons e impessoais professores.

Assim que o estudante se vê sozinho com o seu filho vai em busca do direito de morar num alojamento estudantil, o que lhe é negado, já que as Repúblicas não foram feitas para pais solteiros. Além de não receber este acolhimento material da universidade, o aluno é constantemente desestimulado a permanecer na mesma. Afinal o “tipo ideal” de estudante de Harvard jamais poderia ser alcançado por um pai solteiro. E qual é a responsabilidade da universidade com isso? O que ela pode fazer para incluir o estudante? Nada. Não há moradia, não há creche, não há restaurante universitário, quase não há nem solidariedade entre os próprios pares do aluno em questão.

Aí eu fico me perguntando: para nós professores, gestores, o que significa um aluno que evade a universidade? Nada, nem um número, porque nem nos damos ao trabalho de quantificar este fenômeno (as vezes até torcemos por isso, para reduzir nossas salas).

Fui estudante numa época em que a universidade quase nada oferecia, e mesmo tendo muito pouco já tinha o básico que muitos jovens baianos ainda não tem: uma universidade distante apenas de uma viagem de ônibus coletivo. Isso já foi muito no meu caso, e mesmo com todas as dificuldades descobri (por conta própria) os meios para a minha “afiliação” à universidade. Hoje, como professor, ainda acredito que posso colaborar de alguma forma para que tantos outros estudantes descubram estes meios, que hoje já são muitos, bem mais que a dez anos atrás.

Mas a questão não gira apenas na oferta material dessa assistência estudantil, é preciso mais que isso, é preciso disposição da universidade e de seu corpo permanente em acolher, respeitar e orientar este ”universo diverso” de jovens que brigam com suas armas para estar dentro de universidades, tão simbolicamente significantes como é a nossa querida Universidade Federal da Bahia.

Recomendo o filme, péssimos atores, montagem fraca, mas um ótimo pano de fundo para pensarmos a universidade do século XXI, diariamente sacudida por aqueles que, no passado, nem passavam na frente de seus portões.
 
Link do filme completo no Youtube:
 
Intensos abraços,