Ontem assisti um filme... chama-se "Sete Vidas". Conta uma história de culpa. Um homem, por pequena imprudência, causa um acidente e causa 7 mortes, entre elas a da sua amada mulher. Daí em diante a vida termina para ele, o sentimento de culpa o corrói. Mas ele não opta pela flagelação individual, aquela que resolve sua culpa individualmente, que aplacaria sua dor, eliminando do meio aquele único culpado... ele mesmo. Esse desejo individual de justiça contra si mesmo é acompanhado de uma necessidade de reparar a sociedade daquilo que lhe foi tirado... 7 vidas. É desta forma que ele buscará "castigar o seu crime" como num dilema dotoyevskiano. Mas no "crime e castigo" original o sentimento de culpa é construído no âmbito individual, não constrói essa necessidade de uma redenção pela reparação à sociedade, como um corpo uno que fora atingido. Aqueles que recebem a "bênção" do protagonista não são pessoas diretamente ligados as 7 vidas ceifadas, mas são partes de um meio que precisa ser recomposto.
É curioso que, mesmo num momento de extrema dor, ainda nos pensemos como partes responsáveis por um todo, e que meus atos não apenas interessam a mim, mas a outros também... estranhos, mas ao mesmo tempo familiares.
Penso que essas indagações, sobre os elos "subjetivos" (sim, também subjetivos) que nos unem aos outros "estranhos familiares"estão presentes nas reflexões fundantes de Emile Durkheim.
Parafraseando uma música "Lamento Sertanejo" (Dominguinhos) que sempre uso nas minhas aulas para discutir Durkheim, me pergunto: como é estranho ser "como rês de desgarrada nessa multidão boiada caminhando a esmo".
Vejam o filme, vale a pena, roteiro assimétrico que exige intensa atenção, mas com final que unifica as passagens soltas.
Vejam o trailer legendado:
http://br.youtube.com/watch?v=zXkJW7ar0AE
Grandes abraços...