A temática da intolerância racial me acompanha desde os últimos anos da graduação e, apesar de algumas "decepções" com a temática, ainda leio muito sobre o tema. Mas o real motivo que me faz continuar antenado a temática é a variedade de interfaces com outros temas como religião, imigração, etc. A xenofobia, fenômeno antigo presente na obra de grandes pensadores como Aristóteles, é uma dessas interfaces. Por isso, trago para vocês hoje o filme nacional "Jean Charles" que conta a história do brasileiro morto pela polícia de Londres após ser confundido com um muçulmano.
Esse fato não teve a repercussão necessária já que os policiais envolvidos não foram presos, o que demonstra os limites de nossa tão propagandeada capacidade diplomática. Nos ajuda também a refletir sobre a paranóia ambulante que tomou conta do mundo ocidental desenvolvido após o 11 de Setembro de 2001. O filme aborda a questão de forma sutil, não pondo ela no centro da narrativa. Procura mostrar o cotidiano de muito trabalho de um imigrante num país rico em busca de sucesso, além de mostrar também as redes de solidariedade que se formam entre esses "invisíveis sociais".
O imigrante, especialmente os ilegais, acaba se submetendo a condições duras de trabalho, com baixa remuneração, realizando trabalhos insalubres e sem nenhum direito. Costumo recomendar sobre essa temática o filme "Sob a mesma lua", que retrata a vida dos imigrantes mexicanos ilegais nos EUA... filme emocionante.
Além destas dificuldades materiais, o imigrante ainda é submetido a intolerância étnica, ao ódio contra o imigrante, seja porque ele representa concorrência por empregos em alguns casos, seja por simplesmente ser desprezado devido a sua origem étnica, sua opção religiosa e/ou seus hábitos culturais. Assim sendo a Xenofobia se apresenta como mais uma expressão do racismo, fenômeno que se fortalece objetiva e subjetivamente mesmo sob fortes críticas.
O filme deixa isso claro, Jean Charles foi morto por ter a aparência do 'outro", não inglês, que sempre representou o perigo, mesmo antes do 11/09.
A Xenofobia é sem dúvida uma marca, se não a mais importante, do século XXI. Não é a toa que muitos intelectuais apontam o 11/09 como o marco zero deste século. Devemos estar atentos a este fenômeno e a sua expressão também dentro dos nossos muros.
Veja o trailer do filme no link:
Grandes abraços,